Depois da Crónica do Emigrante e da Crónica do Retornado, eis a Crónica do Viajante Parte IV

Olá de novo caros compinchas,



Passaram alguns dias desde a última crónica do viajante, e reconheço que já estava com saudades de debitar mais uns quantos kilo de postas de pescada, hehe!!

Da última vez que nos encontrámos, estava eu em Petrolina (interior do estado do Ceará) prestes a seguir caminho para Salvador. Petrolina foi deveras uma cidade muita agradável e com potencial para ser mais explorada, mas que terá de ficar para uma próxima oportunidade.

Como disse, o destino era mesmo Salvador onde me iria encontrar com o meu irmão para depois seguirmos para o "gran final", o Parque Nacional da Chapada Diamantina.

Salvador pareceu-me também uma cidade agradável embora com muita (demasiada?) influência ocidental. As zonas ricas e pobres distam umas das outras não mais de 10 metro (!!), e acho impressionante como é possível consegue manter um equilíbrio social relativamente estável (apesar da falta de segurança sobretudo nas horas da noite) em ambientes tão diversos e próximos como os que vi em Salvador, ou mesmo nas outras cidades que visitei.

Fazendo uma análise global a todas as cidades por onde passei (Fortaleza, Acopiara, Crato, Juazeiro do Norte, Santana do Cariri, Petrolina, Salvador e Lençóis), penso que a primeira foi a mais hostil de todas (e também a mais suja e menos "bonita"); no outro lado, está sem dúvida a cidade Lençóis que devido à proximidade com a Chapada e amistosidade dos locais me cativou entre as demais.

Ainda pegando no assunto Salvador, reconheço que pela altura que cheguei a esta cidade tinha já quase 3 semanas a deambular pelo nordeste do país, e como tal, um nível de habituação às gentes e costumes bastante mais aprofundado. Talvez por isso não tenha considerado esta cidade tão perigosa como Fortaleza...

Uma questão que me surgiu nestes últimos tempos e sobre a qual tenho reflectido, tem a ver com a acção política no Brasil, e consequentemente, em Portugal (como podem compreender, a analogia acaba sempre por ser inevitável!).

Em jeito de resposta a algumas críticas que me têm sido apontadas recentemente sobre ter uma atitude muito crítica em relação ao nosso país, vou aproveitar esta reflexão para provar que na verdade sou crítico de problemas, e não de pessoas, países ou outros.

Na última crónica, argumentei sobre a falta de eficiência do serviço público no nosso país bem como sobre as implicações morais relativamente ao resto da sociedade. Aqui devo reargumentar que não retiro nada ao que escrevi, embora reconheça que as palavras poderão de certa forma ter sido demasiado corrosivas para algumas pessoas; como tal, peço em especial aos que não gostaram do texto para simplesmente o ignorar, ainda mais porque não sou uma autoridade moral no assunto!!

Passando à frente, queria tocar no assunto política (xasus, o que é que vem aí, estarão já alguns a pensar?!). O Brasil está neste momento em situação de pré-campanha eleitoral para as eleições gerais que irão decorrer em Outubro de 2010.

Como podem imaginar, é ridícula a quantidade e diversidade de propaganda política que se encontra em toda o lado (vejam a 1ª foto!). Os discursos (já assisti a 2 em praças públicas de Santana do Cariri e Petrolina) fazem-me lembrar os do nosso boro; o dinheiro gasto em painéis publicitários, desdobráveis, autocolantes, etc, etc, deixam-me a pensar de onde veio e como se vai pagar; a imundice deixada nas ruas com as caras de gente tão bonita (impressionante que os políticos são todos feios, onde quer que se vá!!) e que vai ficar para a posteridade, a não ser que alguns miúdos as apanhem (em troca de uns miseros trocados) para serem distribuídas novamente pelos transeuntes.

Reconheço que as pessoas aqui são muito apaixonadas pela política e pelos líderes com que mais se identificam, o que torna toda a campanha mais emotiva, mediática e renhida em comparação com o nosso país. Mas não deixo de me perguntar como, num país tão marcado pela corrupção e falta de seriedade política, as pessoas continuam a correr quase "cegamente" atrás de um grupo de indivíduos aparentemente bem-vestidos e bem-falantes que prometem o imprometível e argumentam o inargumentável...

Voltando ao primeiro argumento (semelhanças dos argumentos políticos nos 2 países, ou seja, "sempre a mesma conversa"), fico a pensar se todos estes políticos frequentaram a mesma escola (??!!), ou se por outra lado se tratam apenas de vicissitudes inerentes à área profissional?!

Na verdade, e para ir directo ao assunto, tenho pensado muito ultimamente no facto da classe política ser a única no nosso país (e pelo que percebi, aqui no Brasil também!) que não requer habilitações académicas para o desempenho das funções inerentes. Actualmente, em qualquer actividade profissional é exigido ao indivíduo licenciatura, mestrado, doutoramento, pós-doutoramento (etc), mas curiosamente na área profissional onde verdadeiramente se joga o futuro do país - área política - não há qualquer tipo de "filtro" para seleccionar os mais aptos dos menos aptos.

Assim sendo, como é que vamos saber se estamos realmente a ser defendidos pelos melhores dos melhores, ou apenas por uns quantos que por não conseguirem empregos bem remunerados em qualquer outro lugar, se agarram com unhas e dentes à angariação de votos para garantirem a sustentabilidade dos seus cargos?

Quando penso no assunto, fico realmente incomodado por perceber que não há qualquer tipo de recrutamento e selecção organizados nos partidos políticos, e consequentemente nos cargos políticos mais altos e influentes da sociedade!

Convido-vos também a pensar neste assunto! Vale pelo menos uma breve reflexão...

Bom, continuando com a narração da viagem fiquei apenas 3 dias em Salvador e logo rumei para o que iria ser um dos sítios mais fantásticos que já vi.

A viagem durou 6h entre Salvador e Lençóis; saí com o meu irmão às 23h e chegámos às 5h. À chegada, fomos recebidos por uma série de indivíduos que no meio da confusão tentavam "pescar" o máximo de turistas para as respectivas pousadas e empresas de ecoturismo e turismo de aventura (de repente veio-me à cabeça o famoso "ah migo, queres chambres?").

Acabámos por ser "levados" pelo Arnaldo que nos sugeriu uma pousada bem em conta e ainda a 1ª caminhada de 2 dias que iria sair às 8h da manhã.

Esta 1ª caminhada não foi muita dura (deu para parar algumas horas nos sítios mais bonitos para dar um mergulho e descansar as canetas), e deu para passar por uns sítios mágicos: Caxoeira (cascata) do Capivari, Caxoeira (cascata) do Poção, Ribeirão do Meio, entre outros. Vejam as fotos e julguem vocês mesmo!

Já a última caminhada não foi tão simples (70km em 2 dias), mas valeu pelo Vale do Morrão, Vale do Capão e Caxoeira da Fumaça. Mas digo-vos que quando andamos deslumbramos com tudo à nossa volta, nem sequer nos lembramos que estamos cansados ou que doem os pés!!

Pelo meio deu ainda para dormir em grutas e tocas, malhar umas caipirinhas e apreciar noites de lua cheia sem luz artificial em redor, mandar uns mergulhos, levar umas ferroadas da bicharada e obrar em plena comunhão com a natureza (sem recurso a papel higiénico artificial, está claro!!).

Deu para ficar na Chapada quase uma semana, e digo-vos que ficaria de bom grado mais uma pois o potencial deste Parque é impressionante (6 dias de caminhada não deram nem para ver 10% da Chapada!).

Um sítio a visitar, sem dúvida.

Bom meus amigos, hoje fico por aqui.

Foi um gosto voltar às teclas após uns dias no meio do "mato", mas amanhã tenho de acordar cedo para ir resolver a situação de ter ficado retido no aeroporto de Fortaleza durante 5 dias (!!) por causa do passaporte ter caducado durante a minha estadia neste país!!

Sim, eu sei...

Não precisam de dizer nada!! :)

Até breve,


Grande abraço


1 comentário:

carlos costa disse...

ola,parabens pelo blogg amigo nuno,alem de me surpreenderes com o violino no look,fiquei muito agradado com o teu blooggg e com o facto de teres estado em fortaleza,..é que a mulher....que povoa os meus devaneios femininos agora,é de la, e deves de imaginar que é um sitio que apesar de nunca la ter ido,ja vi muitas fotos e videos,e ouvi muitas historias......um abraço!