Depois da Crónica do Emigrante e da Crónica do Retornado, eis a Crónica do Viajante Parte III

Olá de novo ilustres amigos, leitores, críticos e outros,


Estou de volta, com mais uma crónica para vosso gáudio e satisfação.

Escrevo-vos de Petrolina, no estado de Pernambuco depois de uma noite de autocarro e um dia de caminhada pela cidade.

Os dias que passei no Crato já lá vão (6 dias), mas há coisas que me ficaram a ecoar na cabeça.

Como vos disse, o Crato é uma cidade situada no interior do estado do Ceará (nordeste brasileiro) e que tem como vizinha a cidade de Juazeiro do Norte, ambas as cidades rodeadas pela Chapada do Araripe.

Relativamente ao Crato, é uma cidade de estudantes com vários polos universitários, pouco visitada por estrangeiros e com economia baseada no sector primário e terciário. Éuma terra bastante segura, onde se pode andar à noite sem grandes preocupações, e com alguns locais de interesse nas redondezas sobretudo relacionados com a Chapada; a saber: Museu de Paleontologia do Crato, Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, Pontal de Santana do Cariri, vila de Arajara, vila de Caldas. vila de Nova Olinda (estas últimas 3 devido à proximidade com a Chapada e possibilidade de seguir vários trilhos), ou ainda o Parque de Arajara (complexo turísticos de piscinas e escorregas mesmo junto à serra).

Já Juazeiro do Norte é a vizinha grande, sendo sobretudo conhecida pelo Padre Cícero e pelas romarias ao santuário situado na serra do Horto. Aqui é evidente a importância do sector terciário, sobretudo na área das confecções e vestuário.

Voltando ao Crato, conheci na 2{ noite que lá estive um músico chamado Ronaldo (excelente músico de ritmos e músicas brasileiras) e acabei inevitavelmente a tocar com ele. A coisa correu bem, e o dono do restaurante acabou por me convidar para voltar a aparecer 2 dias depois para tocar com outro músico "tão bom" como o Ronaldo. A coisa prometia...

Mas esta história de tocar aqui no Brasil, acabou por se revelar como uma opção desastrosa no que toca a garantir copos, janta e cacau em troca. Ou seja, muita música, mas pouco retorno "palpável"!

Claro que não me chateio nada coma situação, mas como em Portugal é normal incluir o jantar e os copos no pagamento aos músicos, a coisa por aqui soube a pouco. Ao que consegui perceber, consta que os músicos brasileiros bebem muito, e para evitar prejuízo para a casa e bubadeiras monstras por parte dos artistas, todos as bebidas consumidas são pagas...ora bolas!

Restou a consolação de tocar músicas bem diferentes do que estou habituado (chamemos-lhe intercacção cultural) e de fazer novas amizades com malta muito porreira.

Quanto ao diaseguinte, rumei em direcção à serra na tentativa de descobrir percursos pedestres. A coisa não correu bem (o parque que eu pensava ser a entrada para a Chapada, era na verdade o tal parque de diversões aquáticas) e acabei por voltar para trás sem a maravilhosa caminhada que tinha planeado.

Como bom português, o orgulho foi mais forte e como tal resolvi...caminhar os 12 km de volta pra casa! Pelo menos seguia o trilho de alcatrão, hehehe. No caminho de volta estava eu a tirar uma fotografia a um lagarto, quando uns agricultores locais meteram conversa comigo.

Como é óbvio, a coisa acabou em torno de umas cervejas na barraca mais próxima. Os indivíduos rondavam os 60 anos de idade, e foram as pessoas mais humildes e afáveis que por aqui encontrei.

Contaram-me que a vida por ali é dura (vida de "roça"), que começa bem cedo (4h da manhã) e que não conhece férias ou dias de descanso; mas nem por isso vi neles algum sinal de cansaço ou de stress com a vida!

Aliás, eles usaram sempre durante toda a conversa o termo "é bom djemais!" para basicamente todos os argumentos (ao que me parece, esta é uma expressão muito utilizada por estas bandas).

E assim é a nossa vida; em Portugal assistimos a greves sem fim, contra tanta hora de trabalho, salários baixos, etc, etc, etc, bla, bla, bla...

Que pena tenho não poder trazer comigo muita gente que conheço a esta aldeia para ouvirem estas pessoas (e verem os seus calos nas mãos!), sobretudo os tradicionais "funcionários públicos"; seria bom ganharem um termo de comparação deste género para perceberem que alguém no país tem de gerar riqueza e garantir produtividade para que o chamado "investimento público" possa acontecer.

Depois de ouvir falar esta gente, com que coragem se pode exigir melhores salários para um emprego de 35h semanais, sem indicadores de produtividade ou possibilidade de avaliação de desempenho?

Quando é que alguém vai conseguir dar a entender a sindicatos e sindicalizados que para se exigir algo do "patrão", é importante garantir que exista uma moeda de troca? Quando é que se vai perceber que a razão de um ensino fraco é tanto de governo como de professores (e outros funcionário)? Quando é que se vai perceber que o crime é tanto responsabilidade do governo como de forças policiais (e não só dos "criminosos")?

Quando era pequenino e queria pedir aumento de semanada aos meus pais, tinha de ter a certeza que as notas nesse período/ano iam ser boas! Só assim poderia ter algum poder de reinvidicação...

Bom, voltando à viagem vou-vos falar agora um pouco de Juazeiro do Norte. Como vos disse, é uma cidade de forte índole religiosa (católica romana apostólica), um pouco à semelhança de Fátima. É, no fundo, um local de peregrinação, sobretudo em busca de milagres e pagamento de promessas ao mencionado Padre Cícero, que é o padroeiro da terra.

A cidade é bonita, e a sua visita não dispensa o museu do Pe. Cícero, o mercado central e o local de culto no topo da serra do Horto, com uma vista impecável sobre a região.

A distância entre o Crato e Juazeiro é de 10km, e há diversos transportes públicos que fazem a ligação a toda a hora.

Também aqui encontrei pessoas muito afáveis, embora a cidade seja um pouco mais perigosa, sobretudo à noite.

Finalmente, e para terminar a crónica de hoje, deixo-vos uma breve descrição de Petrolina que a julgar pelas primeiras impressões, merece uns bons 3 a 4 dias de visita. A cidade é razoavelmente grande (300 000 habitantes), com diversos museus, catedral, igrejas, parque zoológico (no interior do quartel de Infantaria) a visitar.

Fora da cidade há 3 ilhas pequenas que são muito procuradas pelas praias fluviais (rio de S. Francisco).

Com pena minha, não vou poder ficar mais tempo na cidade, mas é sem dúvida um local a visitar.

Bom meus caros, hoje fico por aqui.

Assim que possível, volto com mais!!


Até breve



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